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terça-feira, 5 de março de 2013

POR MARCELO GURGEL - SALGADOS, MUITOS. SIMANCOL, ZERO


Dr. Marcelo Gurgel - Médico e Membro da SOBRAMES-CE

SALGADOS, MUITOS. SIMANCOL, ZERO
Publicado In: SOBRAMES – CEARÁ. Ressonâncias literárias. Fortaleza: Expressão, 2009. 224p. p.167.
Por volta de 1965, uma determinada escola de Medicina estava sediando um evento comemorativo e decidiu oferecer uma pequena recepção aos participantes. Como não havia recursos para contratar um “buffet” completo, e sequer garçons, a direção dessa faculdade decidiu improvisar, colocando o pessoal de limpeza para servir os acepipes aos comensais.
Um dos recrutados para a tarefa foi o faxineiro do bloco didático, bastante conhecido por suas estripulias e pela absoluta falta de “simancol”. Ele estava ali para o que desse e viesse, sem se mancar com as “ratas” que certamente acabaria por provocar. Foi aí que, portando uma bandeja com salgadinhos, dirigiu-se a um grupo de professores, composto, notadamente, por cirurgiões de nomeada, oferecendo a variedade dos canapés àquela roda de mestres.
Discretamente, o Prof. Aroldo Ferreira pegou um salgadinho, no que foi surpreendido pelo serviçal, com essa provocação:
– Num se acanhe não, Dr. Aroldo. Pode pegar mais e até “butar” nos “bolso” do paletó, pra levar pros bichinhos da sua casa.
Polidamente, o Prof. Ferreira recusou a oferta, esboçando um sorriso para o colega Prof. Nelson Gonçalo, que estava ao seu lado, ambos tomados por um certo constrangimento, diante da falta de lhaneza do improvisado garçon.
O faxineiro não perdeu a oportunidade para insistir:
– Dr. Nelson, deixe de “encabulação” e “atraque” suas mãos aqui pra pegar um bocado pra levar pra família. Tem muito lá dentro. Acho qui vai sobrá muito desse troço – arrematou o servidor garçon de araque.
Os dois afamados cirurgiões, como autênticos gentis-homens, decidiram ignorar as tantas tentações do momento e puxaram um assunto médico para seguir a conversa, dispensando os préstimos do pseudo garçon, que ficou a procurar outros mestres dispostos a ouvir suas baboseiras, quiçá a fazer uso da velha tática de juntar pasteis e canudinhos para o “jantar” do cãozinho de estimação, quando, na verdade, eles próprios é que estavam inclinados a fartar o bandulho, com os deliciosos salgadinhos da festa.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Sobramista/CE e membro da ACM

Um comentário:

  1. Caro Marcelo me diverti muito lendo essa crônica.
    Colocar nos bolsos e levar para os bichinhos.Bom demais.
    Fátima Azevêdo

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