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segunda-feira, 29 de abril de 2013

POR: VICENTE ALENCAR - SENTIR SAUDADE


Vicente Alencar - Jornalista e Diretor de Cultura e Divulgação da SOBRAMES-CE

SENTIR SAUDADE

Sentir saudade
é ficar longe estando perto.
Sentir saudade
é perceber o coração apertado
Sentir saudade
é ouvir sem companhia a hora do "angelus"
Sentir saudade
é ver o por do sol sozinho
Sentir saudade
é um estado de espírito.

POR: FRANCISCO ANTÔNIO TOMAZ RAMOS - ANGÚSTIA

Dr. Francisco Antônio Tomaz Ramos - Médico e Vice-presidente da SOBRAMES-CE
                       ANGÚSTIA
Vamos, meu pai, segure na minha mão
Converse, como fez comigo outrora,
Caminhe ao meu lado pela vida afora
Para minimizar esta solidão

Chame o sacerdote, meu prezado irmão:
Vamos escutar uma prece agora
porque preciso, nesta justa hora,
Tirar de minha mente tanta opressão.

Com o tempo, tudo na vida passa;
mas preciso de sua companhia
prá não pensar apenas em desgraça.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

POR: JOÃO DE DEUS PEREIRA DA SILVA - O ARREPENDIMENTO


Dr. João de Deus da Silva - Médico e Membro da SOBRAMES-CE
O ARREPENDIMENTO

Se eu nunca houvesse conhecido
não estaria tão triste, tão sozinho;
este poema não teria em mim despertado
o pranto, ou este não me teria delicado!

Eu sei, tu em mim ainda pensarias
se junto a ti me houvesse desculpado
sobre nossas rusgas d'amor. porque esquecer
que o dia termina ao anoitecer?

Quando a lua do céu ilumina os moribundos
ou quando as estrelas brilhantes estão presentes,
uma emoção, um sentimento tão belo quão profundo

Minh'alma nutre, meu pesar se deixa ir...
Mas a vida do poeta é assim, ou quase sempre,
sonho apenas, pois eu penso só em tí!

segunda-feira, 22 de abril de 2013

POR: RAYMUNDO SILVEIRA - A AULA


Dr. Raymundo Silveira - Médico e Membro da SOBRAMES-CE


                                             A AULA

— Você aí.
— Eu?
— Sim você mesmo que estava cochilando.
— Pois não. Desculpe-me, Professor.
— O que foi que acabei de dizer?
— O senhor falava sobre o idealismo absoluto de Kant e o idealismo fenomênico de Hegel.
— E o senhor não acha isto importante? Prefere se curvar sobre a mesa e fingir que estava dormindo?
— Peço desculpas, Professor, mas o senhor inverteu os postulados dos filósofos alemães. Por isto preferi disfarçar a fim de evitar escutar um equívoco ou vir a ter de cometer a insolência de corrigi-lo.
— O senhor fique de pé e explique para toda a classe qual foi o equívoco que eu cometi.
— Bem, já que o senhor mesmo me constrange a falar aquilo que eu queria evitar, na verdade, o idealismo fenomênico de Kant alcança logicamente o seu vértice metafísico. Em Hegel, ao contrário do que o senhor acabou de afirmar, há toda uma fidelidade aos aspectos históricos do romantismo. Hegel concebe a realidade como uma evolução no sentido do "vir a ser" a qual ele racionaliza elevando a sua proposição a um pretenso status dialético.
Se naquele instante caísse uma pena no chão da sala de aulas se escutaria um estrondo.
— É verdade. Eu me enganei. Quem pede desculpas sou eu. Qual é mesmo o seu nome?
— Manuel da Conceição da Silva Pereira, Professor.
— Manuel, muito obrigado. Mas vou lhe dar um conselho. Cuidado para não reprisar este episódio diante de outros professores. A maioria não é tão tolerante quanto eu. Certamente interpretaria as suas palavras como uma ousadia ou tentativa de humilhação.
— Peço desculpas mais uma vez, Professor, porém quando fui interpelado estava quase dormitando. Só falei porque o senhor assim o ordenou.
— Boa noite e até a próxima aula.
— Senhor Manuel da Conceição da Silva Pereira, já que o senhor é tão sabido, explique para mim e para os seus colegas em que consiste, essencialmente, o pensamento niilista de Schopenhauer e quais as suas próprias reflexões a respeito das idéias dele.
— Não sou tão sabido, Professor. Apenas gosto de ler e não posso evitar que aquilo que incorporo à minha memória e ao meu raciocínio seja apagado no meu cérebro como se fosse um programa de computador passível de ser deletado.
— Dispenso as suas ironias. Responda ao que lhe perguntei.
— Bem, o niilismo – ou pessimismo, como queiram – típico de Schopenhauer poderia ser resumido na seguinte premissa: quem deseja, sofre; quem vive deseja, logo a vida é dor.
— Para o senhor toda a filosofia de Schopenhauer está contida nesta simples sentença?
— Absolutamente não, Professor. Quis apenas ser conciso a fim de não estorvar o bom andamento da aula.
— O senhor não estorva, pelo contrário. Todos estamos ansiosos para ouvir tão sábio filósofo.
— Não sou sábio filósofo, professor, como disse...
— Chega! Fale mais sobre Schopenhauer. O que ele quis dizer quando interrogou: "Por que há simplesmente o ente e não antes o nada?"
— Este pensamento é de Martin Heidegger, Professor, não de Schopenhauer. E, pelo que eu saiba, não se trata exatamente de uma interrogação. Ele quis se referir...
— Basta, seu insolente! Às minhas aulas o senhor não assiste mais. Retire-se agora mesmo da sala de aulas.
— Retiro-me, sim, Professor. Mas não porque o senhor está ordenando, pois não há nenhum artigo no regimento desta escola que me obrigue a cumprir tal determinação. Retiro-me porque, infelizmente, sou obrigado a viver num país onde a educação é tratada com a mesma importância que é dada à coleta do lixo. Retiro-me porque me recuso a desaprender o que aprendi estudando com grande dificuldade enquanto o senhor talvez estivesse a caçar apenas um diploma para tentar ganhar dinheiro com facilidade. Retiro-me, enfim, para evitar que o senhor seja humilhado a cada vez que abre a boca para falar bobagens. Passar bem... “professor”...

domingo, 21 de abril de 2013

POR: VICENTE ALENCAR - SONHOS

Vicente Alencar - Jornalista e Membro da SOBRAMES-CE


SONHOS
 Dorme menina amada,
 sabedora que és,
 amante dos meus desejos.
 Te quero, te quero mais,
 a cada momento.

Dorme menina amada, 
pois teu repouso noturno
acalma minha alma
na certeza que sonhas sorrindo
tanto na noite quente e negra
como na aurora que surge com um novo dia,
mostrando minha atenção,
meu amor por ti,
a cada manhã que chega,
renovando a alegria de viver.

POR: WALTER MIRANDA - O TAMANHO DO AMOR

Dr. Walter Miranda - Médico e Membro da SOBRAMES-CE
O TAMANHO DO AMOR

Meu amor não tem medida
não tem peso
nem tamanho.
A ele não importa o tempo
a distância, a dimensão.
Substantivo,
não requer pronome
nem adjetivo
só se expressa pelo verbo
e na ação,
dialoga com o teu
que dizes ser melhor e maior
pela persistência
pela paciência
pelos perdões
eu digo que tanto faz
e quando dizes que me ama muito
só respondo: amo mais.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

POR: WILLIAM MOFFITT HARRIS - BANDEIRA VERMELHA: UMA OVA!



Dr. William Moffitt Harris - Médico e Membro da SOBRAMES-CE

BANDEIRA VERMELHA: UMA OVA!  1

                                           William Moffitt Harris 2
Quando ia a São Vicente e ficava lá alguns dias hospedado no apartamento de minha filha, costumava fazer uma caminhada, quase que diariamente, de uns três a quatro quilômetros ao longo da praia perto do mar onde a areia é mais firme. Uma pequena deficiência física na altura do joelho esquerdo em consequência de uma implantação de prótese total não muito bem sucedida, obriga-me a andar devagar e com cautela, ajudado pela bengala para não tropeçar em alguma anfractuosidade e cair. A bengala que usava tem como formidável dispositivo um quadrado de borracha, trazida da Argentina por um amigo meu, preso em sua extremidade que não a permite afundar na areia.
Em fins-de-semana e nas férias escolares são milhares de pessoas que aproveitam o bom tempo ensolarado para passar horas lagarteando e se banhando nas águas frescas e movimentadas do mar.
Faz alguns anos que observo que a CETESB, órgão estadual que cuida do saneamento básico, iça em alguns pontos da praia uma pequena bandeira vermelha de mais ou menos um terço de um metro quadrado onde está escrito: IMPRÓPRIA. CETESB. Não existe qualquer informação sobre sua origem, finalidade e utilidade. Ninguém está por lá para prestar qualquer tipo de esclarecimento. Quem teve a paciência, interesse e compreensão técnico-administrativa para acompanhar a entrevista da Secretária Estadual do Saneamento e Meio Ambiente Dilma Pena no programa Opinião da TV Tribuna em fevereiro, deve ter se sentido frustrado ao notar a grande preocupação do alto escalão governamental em traçar metas a médio e longo prazo sem definir e cuidar muito do planejamento a nível operacional na periferia do organograma.
Num mês de fevereiro, há poucos anos, conversei um pouco com um dos bombeiros que estavam de plantão perto do emissário próximo à Ilha de Urubuqueçaba. Disse-me que o negócio deles é zelar pela segurança física dos banhistas. Nada têm a ver com a poluição do mar. Estão bem equipados com tábuas de surfing, bóias, cordas, pequenos barcos a motor, uma ambulância estacionada na praia para pronto atendimento e até um helicóptero sobrevoando periodicamente as praias da circunvizinhança. Vi lá adiante uma cabecinha, subindo e descendo com as ondas do mar e fiz uma pergunta ao bombeiro. Riu e disse-me que era um nadador profissional muito conhecido dele e de seus companheiros e que costumava avisar quando ia dar a volta na Ilha.
Lembro-me de que na semana anterior, havia abordado um dos policiais que fazia, junto com dezenas de colegas fardados, o policiamento ostensivo das calçadas e báias onde os turistas estacionavam seus veículos. Indaguei dele o porque da total omissão das autoridades locais face ao aviso da CETESB e as centenas de pessoas mergulhando e brincando na água, a maioria das quais

crianças até de tenra idade. Mostrei minha preocupação com doenças veiculadas pela poluição e mesmo citei algumas transmitidas por fezes. Ficou interessado na minha prosa, mas disse que realmente não era atribuição de seu pessoal e que a responsabilidade, no caso, seria da Secretaria da Saúde de São Vicente e seus fiscais. Acrescentou que, pelo que soube, um fiscal foi até agredido por insistir para as pessoas saírem da água. 3
Não faz muito tempo  - há cerca de dois anos – vi perto da Ilha Porchat uma professorinha cuidando de umas quinze ou vinte  crianças na beira d’ água e algumas maiorzinhas adentradas no mar. Creio que eram de alguma creche ou escolinha municipal. Tinham entre sete e dez anos de idade aproximadamente. Abordei a professora de forma educada e interessada, e perguntei se conhecia o significado daquela bandeira vermelha. Foi categórica: - Ninguém aqui liga para isto, não. É coisa de políticos; briga entre os governos municipal e estadual. Acho que é também coisa de médico...
Identifiquei-me como médico sanitarista e professor aposentado da USP. Replicou incontinenti: - ‘Tá vendo? Não falei?
E voltou a seus afazeres junto às crianças que estavam se divertindo à beça. Não me deu mais a menor atenção...
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1 - Apresentado nas seguintes tertúlias literárias do  Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário - MMCL : 92ª em 7/fev/2009 em Santos (15ª reunião de Santos), 93ª em 18/fev/2009 em Sorocaba (12ª reunião de Sorocaba), 94ª em 7/março/2009 em Taubaté (10ª reunião de Taubaté), 95ª em 14/março/2009 em Santo André (10ª reunião de Sto André), 96ª tertulia literária do MMCL em 21/março/2009 em Piracicaba (9ª reunião de Piracicaba) e na 100a em 21/maio/2009 em Sorocaba (13a reunião de Sorocaba). Apresentado na reunião da “Academia em Poesia” da Academia Vicentina de Letras, Artes  e Ofícios “Frei Gaspar da Madre de Deus” em 9/março/2009 e no 2º Congresso Paulista Comunitário de Letras em Santos (1 a 3 de maio de 2009) quando foi festejado o 4º aniversário do MMCL.
2Pediatra Sanitarista. Prof. Dr. (aposentado) da Faculdade de Saúde Pública – USP. Fundador (05/05/05) e Coordenador Estadual do Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário – MMCL. Membro Titular ativo da Associação Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES desde 2003, nível central SOBRAMES-BR, níveis regionais: SOBRAMES-RS da SOBRAMES-CE (Membro Honorário e Titular). Dissidente e separatista da SOBRAMES-SP. Membro Correspondente da Academia Maceioense de Letras. Sócio Titular da Associação Paulista de Medicina e Associado da Associação dos Médicos de Santos. Membro Associado da Academia Vicentina de Letras, Artes e Ofícios “Frei Gaspar da Madre de Deus” de S. Vicente – SP.  “Padrinho” do Movimento Literário Saberes e Sabores  – MLSS de S. Gonçalo do Sapucai – MG.

3 – Estas baias foram depois retiradas para dar lugar a uma ciclovia que vai até Praia Grande. Os moradores locais também reclamavam da barulheira que os donos dos carros estacionados faziam à noite e em fins de semana com o som de seus rádios ligados no máximo volume.