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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

POR: CELINA CÔRTE PINHEIRO - FAIXA ETÁRIA

Dra. Celina Côrte Pinheiro -  Médica e Presidente da Sobrames-CE


FAIXA ETÁRIA

                                          Celina Côrte Pinheiro

            Ele aprendeu e adorava a expressão. Useiro e vezeiro, em qualquer oportunidade, utilizava-a orgulhosamente, na certeza do sucesso, fosse diante de quem fosse. No restaurante onde trabalhava, quando o cliente lhe perguntava se o pedido feito iria demorar, ele estufava orgulhosamente o peito, balançava a mão de um lado para o outro e respondia raciocinando: “Huumm... Pela hora do seu pedido, acredito que demore na faixa etária de meia hora...”. O sorriso de um ou outro cliente mais erudito aumentava-lhe a confiança para continuar se utilizando da expressão “faixa etária” na certeza de sucesso. Os menos aquinhoados no vernáculo se impressionavam com aquele palavreado elegante e comentavam entre si sobre a inteligência daquele moço, tão simples, trabalhando como garçom. Deveria tentar outra profissão na área do Direito ou da Medicina... Jesuíno ficava feliz com a ideia. Quem sabe!!!
            O futuro parecia lhe sorrir quando conheceu Marilena. O pai, dono de uma farmácia no vilarejo e, além disso, vernaculista e escritor, poderia ser a alavanca de que necessitava para sair daquele futuro sem emoções como intermediário entre o cliente e o cozinheiro. Se não fosse pelas gorjetas... Quem sabe a Medicina ou o Direito poderiam se tornar realidade em sua vida. Até mesmo a Faculdade de Farmácia, com a garantia de um futuro ainda mais concreto. A paixão foi mútua e ele, entusiasmado, convidou-a para um cinema e depois um sorvete. Prometeu que antes de nove e meia da noite, ela estaria de volta à sua casa. Jesuíno não queria dar ao futuro sogro (já o via assim) nenhum motivo de desagrado. A mocinha sorriu confiante e fez a pergunta fatídica:
            - A que horas você passará em minha casa? - ela falava tão bem quanto o pai e herdara seus dotes de escriba. Redação primorosa e elogiada no colégio.
            O moço, caprichando na voz e na fala para impressionar Marilene, respondeu: "Na faixa etária de umas seis..."
            Nem teve tempo para completar a frase. A moça se desenxabiu na hora. Desconversou e disse:
            - Não, não! Lembrei-me agora... Um compromisso inadiável. Fica para outra vez...
            Ele ainda quis dizer alguma coisa mais, contudo Marilena saiu apressada e já quase dobrava a esquina. O moço ficou cismando, cismando, preocupado. Talvez ela tivesse achado cedo demais ou a timidez da moça a tivesse feito recuar diante do convite... Quem sabe, na faixa etária de uma semana, seria o tempo ideal para voltar a convidá-la.



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