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sábado, 15 de fevereiro de 2014

POR: SEBASTIÃO DIÓGENES - O DIVINO E O DIABÓLICO NA BEIRA-MAR

                                 


Dr. Sebastião Diógenes- Médico e Tesoureiro da Sobrames-CE

 
                           O divino e o diabólico na Beira-mar

            Osório foi atropelado por um esqueite no calçadão da Praia de Iracema. A aguda proa do perigoso veículo rasgou a pele do tornozelo e lhe fraturou o perôneo, melhor dizendo, a fíbula, conforme a nomenclatura moderna. Passou dois meses sem as caminhadas. Como dói o perôneo! Recuperou-se do trauma físico à custa de placas e parafusos de titânio. Quanto sofrimento por causa de um esqueite! Ora, ora, que besteira! Isso não é nada, em  cidade onde não há civilidade!
            Ontem foi um dia especial. Osório vence o trauma psicológico e retorna à Beira- -mar. No início da noite ele chega ao lugar onde há menos veículos circulando no calçadão, bem ali, perto do Náutico.
            No calçadão, como que o esperando para uma saudação especial, há um animado forró pé de serra puxado por um trio familiar. Eles são do Rio Grande do Norte, vivem perto de Parnamirim. Dona Neide, a mãe, no triângulo; o menino Francisco, no zabumba; e a mocinha de 19 anos, na sanfona e nas cordas vocais. Uma graça!
            Valbeane usa um chapeuzinho de couro no alto da cabeça, quase sem abas, um pouco maior que o solidéu dos eclesiásticos. Toca e canta com alegria e charme. Nos intervalos, faz propaganda do DVD, cinco reais um disco, que aproveitassem a promoção. Osório se empolga e compra a mercadoria. A menina capricha tanto mais: “Minha vida é andar por esse país...” e espicha a sanfona branca de 80 baixos contra o peito jovem. Osório incomoda-se com a falta de pudor da sanfona, porque não lhe é função fazer arte de mamógrafo. Não se conforma com a impetuosidade do acordeão, não é coisa que se faça com busto de cardinal beleza e rijo de tão puro. No seu entendimento, isso é ofício das boas mãos.
            Bem diz a sentença popular: “o que é bom, dura pouco.” O trio encerra o espetáculo porque o espaço vai ser ocupado por dois comediantes. Osório reinicia a caminhada em direção ao mercado dos peixes com a esperança de se dar bem. Mais tarde, estará na casa dele a ouvir as músicas de Valbeane, que, para isso, comprou o disco. E ela, em carne e osso, muito especialmente em carne, cansada, porém dengosa, a receber os afagos do namorado.
            - Cuidado, Paixão!...  Estão magoados, da sanfona!
Sebastião Diógenes.
15-02-2014.

            

2 comentários:

  1. Caro amigo Sebastiao,, seu texto está muito bom! Deixa uma certa dúvida no leitor. Este é um dos segredos do bom conto. Parabéns! Deveria lê-lo em uma de nossas reuniões...

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  2. Parabéns caro Sebastião! Também gostei muito de seu texto. Certamente adoraríamos ouvir sua leitura em uma de nossas reuniões. Ah...fiquei curiosa para ouvir a cantoria de minha conterrânea. Só pedindo emprestado ao Osório este CD :)

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