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sábado, 2 de fevereiro de 2013

POR CELINA CÔRTE - A SOBRAMES NO CEARÁ



    Dra.Celina Côrte Pinheiro
    Médica e Presidente da SOBRAMES-CE
                                     

                                                                                                                        
A Diretoria da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Regional Ceará (SOBRAMES-CE), empossada em março de 2012, tem o prazer de informar a todos que se encontra em sua nova sede, desde o início de dezembro de 2012. Situada agora na Rua Bárbara de Alencar nº 1329-B, quase esquina com a Av. Rui Barbosa, a nova sede possui o atrativo de estacionamento fácil, em um importante corredor de passagem, o que por si só já é um convite à visita dos amigos que desejem conhecer nosso novo espaço.

Na atual gestão, entre as iniciativas tomadas, além da mudança de sede, construímos nosso blog com a participação efetiva da Dra. Ana Margarida Rosemberg. Este tem sido amplamente visitado o que para nós implica em grande satisfação. Em novembro de 2012, lançamos nossa XXIX Antologia sob o título “Murmúrios Literários”, em noite festiva no Ideal Clube e, em dezembro do mesmo ano, empossamos, no Auditório da Unimed Fortaleza, quatro novos Membros Titulares e outorgamos o título de Membro Honorário à Dra. Nilza dos Reis Saraiva, estimada e conhecida médica veterinária em Fortaleza, além de grande incentivadora do crescimento de nossa sociedade. 

A SOBRAMES-CE foi criada há mais de três décadas e por ela passaram dez Presidentes, que, neste ano, comporão a galeria de fotos a ser exposta na atual sede. Planejamos para 2013 mais uma Jornada Interiorana com o intuito de disseminarmos a literatura no meio médico, profuso em grandes talentos, e a XXX Antologia, esta última uma inegável tradição no calendário anual. Nosso sonho é a reconstrução da História da SOBRAMES-CE, para que esta se perpetue na memória de todos e traga a lume a competência literária dos médicos que por ela passaram. 
                                                                                        Celina Côrte


POR SEBASTIÃO DIÓGENES - CASA DE REPOUSO



Dr. Sebastião Diógenes Pinheiro - médico e tesoureiro da SOBRAMES-CE
                                                                              
 A CASA DE REPOUSO
               
 Dr. Cassiano com a mulher escolhem a casa de repouso que fica no alto da serra para passar o longo feriado da semana santa.  A pequena sobra de mata atlântica de mistura com a caatinga torna o lugar muito aprazível. Foi no passado sanatório para o tratamento de doentes da tuberculose, dado o clima ameno e saudável. A hospedaria possui, no entorno, uma horta, um pomar, uma vacaria ao fundo e um enorme galinheiro com aves prontas para o abate. Suínos, caprinos e ovinos ficam na encosta do outro lado da serra, sítio que a vista não alcança do jardim que se localiza no pátio interno, entre as duas alas da rústica edificação. Anexa à ala esquerda, ergue-se a capela de alta torre, que as andorinhas-dos-beirais frequentam.

 A casa de repouso é dirigida por uma freira aplicada, germânica de nascimento. Ela domina muito bem o português e atende as pessoas com obsequiosidade, sem, no entanto, abdicar a formalidade do hábito.

- Café da manhã das 7 às 9 horas; almoço das 11 às 13 horas; jantar das 18 às 20 horas. Ela explana outras regras da casa, todas rígidas, e leva os hóspedes aos aposentos previamente reservados, porque a procura é grande.

O casal fica encantado com o antigo mosteiro beneditino, aprova as acomodações. Dr. Cassiano passa uma noite maravilhosa, desperta com os gorjeios dos pássaros da floresta. Deixa a mulher na cama e sai para o jardim.

- Bom dia, irmã Evelyn! Estou apreciando o seu jardim. Está muito bonito!

- Bom dia! Este jardim dá muito trabalho, mas só em vendo um beija-flor já vale a pena! Os hóspedes gostam muito. E então, o senhor já comeu hoje?

- Não, senhora!

- E a mulher?

- A mulher, já!

Conversam animadamente sobre rosas e orquídeas e dirigem-se ao refeitório.

- É aqui o nosso refeitório. Tenha um bom apetite! Pede licença e sai para ordenar outros afazeres.

Após o farto café da manhã, Dr. Cassiano sai para a caminhada, pega uma trilha bem sinalizada que passa pelos principais arroios da serra. Nesse ínterim, a freira encontra-se com a simpática mulher do Dr. Cassiano, radiante de felicidade.

- Bom dia, irmã! Que jardim lindo!

- Bom dia, dona Lia! A senhora dormiu bem?

- Sim, tivemos uma noite muito agradável. Cassiano está adorando!

- Com licença, irmã, deixe-me ir ao refeitório, senão perco o horário do café da manhã.

- E a senhora ainda não tomou o seu café?! Estranha a irmã Evelyn, de cenho contraído.

- Ainda não, senhora!

A freira, a aplicada administradora da casa, põe o indicador na fronte em sugestão de dúvida. Permanece pensativa por alguns instantes. Fica um pouco confusa. Alivia-se. Julga tratar-se de um mal entendido, coisa da língua portuguesa.

No dia seguinte, o casal acorda cedo sob os cantos harmoniosos da passarada e ambos vão diretamente ao refeitório. Após o café, Dr. Cassiano fica no jardim e a mulher dirige-se à capela do antigo mosteiro.

- Bom dia, Dr. Cassiano! Vejo que o senhor gosta muito da Natureza! Muito bem, meus parabéns! E então, já comeu hoje?

- Já, sim senhora!

- E a mulher?

- A mulher, ainda não!

Dr. Cassiano sai para a caminhada, desta vez, segue a trilha que passa pelo antigo povoado, que nasceu com a construção do convento. Logo em seguida, a freira encontra-se com a sua mulher no adro da igreja.

- Bom dia! A senhora é católica, hem?!

- Sim, sou devota de santa Mônica.

- Muito bonito, é uma santa muito estimada. Pouca gente sabe, era mãe de santo Agostinho. Agora, é melhor a senhora se apressar para o café, são quase nove horas.

- Obrigada, irmã! Já tomei o café com o meu marido.

A freira leva o dedo indicador à fronte e fica ainda mais confusa com as informações prestadas pelo Dr. Cassiano. Traz à memória os diálogos matinais que a deixam perturbada. Os detalhes...! Sim, a intenção do verbo! A mulher do médico observa-lhe as fácies contrafeitas. Em seguida, sobrevém-lhe o riso discreto e resignado, de quem compreende a ironia, o contexto incongruente com os seus votos monásticos. Sente-se humilhada. Monologa em voz baixa: “canalha!”

- Algum problema, irmã? Posso ajudá-la?

- Pode, pois não!

Dr. Cassiano lamenta a brincadeira, jura que não a fez por má fé. Beija-lhe os dedos em cruz, feito menino traquinas. A mulher mal humorada, não quer conversa. O casal desce a serra naquela mesma manhã. Logo abaixo, encontra-se a famosa curva da saudade, local que possui um pequeno santuário e tem uma vista privilegiada da ala direita da casa de repouso. Dr. Cassiano para o carro e desce para acenar um adeus, como manda a tradição. Olha para o alto e lá está a guardiã na varanda,  impassível, no seu hábito azul celeste de mangas largas e véu branco. De longe, assim, parece uma santa! Mas não lhe responde o aceno, braços cruzados, a mão sem retorno.

Sebastião Diógenes.

31 de dezembro de 2012.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

NOVA SEDE DA SOBRAMES-CE

Caros (as) Sobramistas,
A diretoria da SOBRAMES-CE aguarda a visita dos colegas em sua nova sede, com um toque feminino.
Venham conhecer, opinar, contribuir e divulgar...
Vocês serão muito bem-vindos!




Rua Bárbara de Alencar com a Avenida Rui Barbosa



Dra Celina Côrte -Presidente da Sobrames-Ce


Dra, Celina Côrte



Claryta - Secretária da Sobrames-CE





Diretoria da Sobrames-CE - Dr. Diógenes, Ana Margarida e Celina Côrte



POR WILLIAM HARRIS - O LICOR IRLANDÊS



O LICOR IRLANDÊS  1
                                                         William Moffitt Harris 2

Eram já oito horas da noite daquele outono de 1962 e minha esposa lavava as coisas do jantar na cozinha. Resolvi telefonar para o Tavares e convidá-lo para bater uma prosa em casa. Já tinha também jantado.
Assim que chegou, falei:
¾ Tavares, hoje é o dia nacional da Irlanda e meus irmãos e eu, como bons descendentes daquele estóico e bravo povo, costumamos      festejar tomando um golinho - e apenas um golinho, (entendeu?) - de um licor que de lá veio especialmente para a gente. Tanto é assim, que dividimos a garrafa em quatro e cada um ficou com um pouco. Nem rótulo minha garrafa tem.
Fui buscar nossa garrafa na despensa e me desculpei enquanto tirava o pó e teias de aranhas, porque só a pegávamos, conforme fui adiantando, naquela data, uma vez por ano.
Tavares me acompanhava com o olhar. Era de falar pouco.
Derramei um pouquinho em dois pequenos cálices para licor, tomando o cuidado de não passar da metade e informei:
¾ Só tem uma coisa, Tavares: tome bem devagarzinho porque é forte; na verdade, é muito forte. Sabe como é o clima lá naquelas partes, Irlanda, Escócia, Noruega, etc. O povo de lá está acostumado com coisas mais fortes do que a gente aqui nos trópicos, mesmo em fins de outono, como agora.
E, bem lentamente, dava o exemplo. Não tínhamos nenhuma bolacha típica irlandesa para oferecer, mas a Maria Lúcia tinha torrado um pouco de amendoim. Continuamos a conversar trivialmente e eu observava meu amigo de perto, porque sabia o quanto ele era influenciável por uma boa conversa.
Não deu outra.
¾ Mas que bebida gostosa, William. Realmente é muito, muito forte. Acho que nunca tomei algo tão alcoólico em minha vida. E que sabor! Dá até impressão de ser de alguma dessas frutas exóticas dos Alpes que a gente nem conhece.
¾ Dos Alpes, não diria, Tavares, mas provavelmente dos morros perto de Cork, na Irlanda, onde viveram alguns de meus antepassados.
Já tínhamos quase esvaziado nossos cálices, tomando o famigerado licor, de golinho em golinho, de permeio ao amendoim.
¾ Mas que coisa forte, William. Sabe que estou até me sentindo meio tonto? Nem vou tomar este restinho aí.
¾ O que é isto, Tavares, imagine só se meio cálice deste vai lhe afetar. Eu servi só um pouquinho, principalmente porque o licor da garrafa precisa durar pelo menos mais dez anos.
¾ Não, fora de brincadeira, William, meu caro colega, já nem estou enxergando direito. Acho que você vai ter de me levar para casa, depois desta. Amanhã cedo venho buscar o jipe.
Fiquei, realmente, preocupado. E se o Tavares despencasse e tivesse um coma hipoglicêmico psico-induzido?
¾ Eta, doutor Tavares, sabe o que o nobre colega acabou de tomar?
¾ Ué, você não me disse que era licor irlandês?
¾ É, mas foi somente uma brincadeira. Acabamos de tomar Vinho Reconstituinte Silva Araújo Roussel do SARSA! Poderíamos tomar o vidro todo e certamente, acostumados que somos a uma boa caipirinha que você me ensinou a fazer, nada sentiríamos.
Recuperou-se na hora e sorriu. Ascendeu seu cigarro de palha e, entre tossidas, pigarreadas e baforadas, desandou a rir sem parar.
Continuamos grandes amigos até seu falecimento, lá em Oswaldo Cruz mesmo, em novembro de 2007. Seu nome foi perpetuado como meu patrono da cadeira 94 da Academia Maceioense de Letras.



1 – Primeira versão publicada inicialmente no livro do autor Era Uma Vez Um Menino Travesso. São Paulo: Legnar Editora, 2004. p. 65 (esgotado). Apresentado, ligeiramente modificado, na 110ª tertúlia literária do Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário – MMCL (Núcleo de Sto André - SP, em 12/09/09), na reunião “Academia em Poesia” da Academia Vicentina de Letras, Artes e Ofícios “Frei Gaspar da Madre de Deus” de S. Vicente - SP em 14/09/09 no Clube Elos, na tertúlia literária do Movimento Literário Saberes e Sabores - MLSS de S. Gonçalo do Sapucaí – MG em 22/02/10 e numa das reuniões periódicas de 2011 do MMCL em Sorocaba-SP. Publicado em Roda Mundo 2009 – Antologia Internacional. Itu – SP: Ottoni Editora, 2009. p.168 e em Memórias Sapucaienses. Itu – SP: Ottoni Editora, 2011. p.274 (coletânea não periódica do Movimento Literário Saberes e Sabores - MLSS de S. Gonçalo do Sapucaí – MG)



2 - Pediatra Sanitarista. Prof. Dr. (aposentado) da Faculdade de Saúde Pública – USP. Fundador (05/05/05) e Coordenador Estadual do Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário – MMCL. Membro Titular ativo da Associação Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES desde 2003, nível central SOBRAMES-BR, níveis regionais SOBRAMES-PE, SOBRAMES-RS.  Membro Honorário e Titular da SOBRAMES-CE. Dissidente e separatista da SOBRAMES-SP. Membro Correspondente da Academia Maceioense de Letras. Sócio Titular da Associação Paulista de Medicina e Associado da Associação dos Médicos de Santos. Membro Associado da Academia Vicentina de Letras, Artes e Ofícios “Frei Gaspar da Madre de Deus” de S. Vicente – SP.